O impasse entre Flamengo e Libra continua rendendo acusações dos dois lados. Em entrevista ao UOL, publicada nesta quarta-feira, o presidente rubro-negro, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, criticou o comando do bloco e a presidente do Palmeiras, Leila Pereira
Bap disse que o Flamengo vem sendo excluído da Libra e reiterou que o clube tentou buscar um acordo durante meses antes de ingressar na Justiça. O Flamengo conseguiu, através de liminar, bloquear parte do dinheiro da TV (R$ 77 milhões) até que ocorra uma definição sobre a divisão das receitas de pay-per-view.
– Nós tentamos isso durante oito meses. Eu acredito que eles só foram prestar atenção no pleito do Flamengo depois que a gente entrou na Justiça. Por que algumas coisas estão muito claras lá, que são favoráveis ao Flamengo, está preto no branco, a unanimidade, a mudança do critério, a falta de definição de qual era o mix que você colocaria numa fórmula eventual de audiência, estava muito claro, bastava ler o contrato. Então me surpreende muito a posição sectária e excludente que eles tiveram em relação ao Flamengo. Eles em momento nenhum quiseram discutir absolutamente nada, não fizeram nenhuma pergunta sobre nenhum detalhe de fórmula – disse Bap, em entrevista ao UOL.
O dirigente também negou que o Flamengo se recusou a participar do Comitê de Integração com a Liga Forte e afirmou que o clube foi excluído pelos demais.
– O Flamengo pediu para participar do comitê de integração com a Liga Forte e Palmeiras e São Paulo votaram contra… Não é verdadeiro que o Flamengo não queira participar, sobre essa história de que o Flamengo é egoísta, O Flamengo abriu mão de meio bilhão de reais em cinco anos, sem nenhuma garantia de absolutamente nada. E os nossos parceiros não querem que a gente participe do comitê de integração com a Liga Forte. Então, você veja, tem uma narrativa. Na verdade, você tem um ou dois clubes querendo mandar e eles acham que o Flamengo vai ter um comportamento dócil e ficar a reboque. Eu tenho um compromisso, como presidente do Flamengo, de fazer o Flamengo se representar à altura.
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Bap, presidente do Flamengo, durante reunião do Conselho Deliberativo na semana passada — Foto: Mariana Sá/CRF
Bap ainda citou a influência do Palmeiras na Libra e colocou em xeque a imparcialidade do bloco. O presidente do Flamengo acusou o advogado André Siva, que trabalha para a Libra e tem feito o papel de mediador, de defender o Palmeiras há anos e trabalhar pelos interesses do clube paulista.
– O advogado do Palmeiras, ele trabalha pro Palmeiras, a família dele trabalha pro Palmeiras há muito tempo, o escritório que entrou com o agravo lá da Libra contra o Flamengo é o escritório do Sica. Isso é um conflito evidente. Se eu pudesse voltar atrás no tempo, eu jamais teria concordado com a construção de uma Libra. A Libra é verde. A Libra é toda verde. A Libra é palmeirense. O Sica é advogado do Palmeiras. Virou advogado de outros clubes. Tá certo? Ele é advogado. Ele advoga para outros clubes que estão na Libra.
O ge procurou a Libra, na manhã desta quarta. Por ora, a Libra não vai se posicionar sobre as declarações do presidente do Flamengo ao UOL.
Bap também criticou a atuação e a influência de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, na Libra. O dirigente comentou a relação entre eles. Na semana passada, Leia comparou a diretoria rubro-negra a “terraplanistas”, atacou a postura de Bap no imbróglio e disse que o Flamengo deveria jogar sozinho.
– A relação com a Leila era muito boa até um determinado momento desse ano. Assim, a relação com a Leila é ótima quando você concorda com tudo que ela quer… Eu acho que é uma declaração infantil. Tentando colocar uma coisa que não é viável. Não existe isso. Quem é que discutiu que quer estar separado? Vou repetir pra todo mundo, o Flamengo quer ficar na Libra. O Flamengo nunca discutiu, o Flamengo nunca aventou a possibilidade de sair. O Flamengo, muito antes de todo esse pessoal, defendeu a lei do mandante que trazia pra todos os clubes um valor que eles não tinham até então. Então o Flamengo, muito pelo contrário, o Flamengo foi generoso demais neste processo, pensando na consecução de uma liga futura. Agora, alguns só pensam em dinheiro, pensam em tirar vantagem, dedicam mais tempo e energia a aparecer em público, a propagar o seu ego do que, de alguma forma, em trabalhar pelo interesse coletivo.
Entenda o impasse
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Presidente do Flamengo, Bap, — Foto: Emanuelle Ribeiro
A Libra é uma entidade criada para vender direitos de TV de alguns clubes do Brasileirão. Ela é formada por Palmeiras, Bragantino, São Paulo, Santos, Atlético-MG, Bahia, Grêmio, Vitória, Remo, Paysandu, Volta Redonda, ABC, Guarani, Sampaio Corrêa, Brusque e o próprio Flamengo.
Os outros clubes do bloco fizeram duras críticas ao Flamengo, que conseguiu no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro uma liminar para bloquear uma parcela que o grupo receberia pela venda dos direitos de TV. O total travado é de R$ 77 milhões.
O Flamengo alega que o conceito de audiência tem a fórmula incompleta, que precisa ser complementada pelo voto unânime dos clubes da Libra. Ou seja, é visto como incalculável. Essa divisão acontece da seguinte maneira:
•Igualitário: 40% – Essa porcentagem fixa remanescente de 2025 do contrato com a Globo é dividida igualmente entre os nove clubes da Libra da Série A;
•Performance: 30% – Remuneração de acordo com a posição na tabela ao final do Brasileirão de 2025. O primeiro ganha 9,5% e os rebaixados 1,25%;
•Audiência: 30% – Remuneração de acordo com a audiência a ser aferida conforme critério estabelecido no Anexo 1 do estatuto da Libra.
O critério de audiência teve a premissa básica aprovada, em setembro de 2024, pelo então presidente Rodolfo Landim. Ele previa que cada clube ficaria com metade da audiência por jogo em cada uma das plataformas de TV aberta, TV fechada e PPV. No entanto, o Flamengo argumenta que o contrato não divide o valor por plataforma.
Em sua ida à Justiça, o clube alega que a regra aprovada não pode ser aplicada. Desde o início do ano, Fla e os clubes da Libra vêm negociando cenários diferentes para regulamentar esse critério de audiência. Foram desenhadas seis situações diferentes. Não houve acordo.
Em julho de 2025, foi feito o pagamento da primeira parcela da verba aos clubes. A divisão se baseava no cenário um, proposto pela Libra. O Fla alega que votou contra o critério de divisão na assembleia de agosto, mas, ainda assim, a entidade instruiu o pagamento da segunda parcela aos clubes. O Rubro-Negro pediu as gravações do encontro.
Nas últimas semanas, clube e entidade divulgaram notas oficiais rebatendo as versões um do outro. A Libra acusa o Flamengo de “disseminar desinformação”, afirmou que a diretoria rubro-negra não busca o diálogo e assegurou que o estatuto da entidade não é omisso quanto aos critérios de distribuição de receitas. Já o Rubro-Negro garante querer dialogar e afirma que há omissão no estatuto. O clube alega que deveria ser feito um detalhamento dos critérios da divisão do dinheiro e, por isso, houve assembleias da Libra em maio e agosto deste ano.
O Rubro-Negro discorda dos critérios do grupo para distribuição do dinheiro e conseguiu no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro uma liminar que bloqueia o repasse de uma parcela (R$ 77 milhões) a todos os clubes da Libra. A entidade recorreu da decisão.
Fonte: Ge