Uruguai se despede de Mujica com cortejo e velório aberto ao público antes de cremação

Uruguai se despede de Mujica com cortejo e velório aberto ao público antes de cremação

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Multidão acompanha cortejo de Pepe Mujica em Montevidéu

Multidão acompanha cortejo de Pepe Mujica em Montevidéu — Foto: Dante Fernandez/AFP

O Uruguai começou a se despedir oficialmente do ex-presidente José “Pepe” Mujica, morto na terça-feira após uma batalha de mais de um ano contra um câncer de esôfago. O corpo do ex-presidente chegou ao edifício da Presidência uruguaia nesta quarta-feira, de onde seguiu em cortejo pela capital do “paisito”, com previsão de chegada à tarde ao Palácio Legislativo para um velório aberto ao público. Os restos mortais do ex-presidente serão cremados na quinta-feira, após um evento que deve reunir autoridades estrangeiras.

Em frente ao edifício da Presidência uruguaia, na área da Praça Independência, centenas de ativistas se reuniram para o início do cortejo fúnebre. Integrantes do Movimento de Participação Popular (MPP) chegaram vestindo camisetas pretas com uma estampa branca nas costas com uma frase popular de Mujica: “No me voy, estoy llegando” (“Eu não vou embora, estou chegando”).

O governo uruguaio decretou três dias de luto nacional pela morte de Mujica — um ex-guerrilheiro que ficou famoso pelo estilo de vida austero, fiel à sua retórica anticonsumista, e se tornou líder da esquerda na América Latina. O cortejo irá afetar os transportes na capital uruguaia, mas escolas e outros serviços públicos irão funcionar normalmente.

O corpo de Mujica deve chegar ao Palácio Legislativo por volta das 13h, mas o velório público deve ser aberto a partir das 15h. O corpo continua sendo velado até a quinta-feira, quando está prevista uma cerimônia final, que deve reunir figuras políticas próxima ao ex-líder uruguaio.

Carruagem leva caixão de Mujica durante cortejo fúnebre pelas ruas de Montevidéu — Foto: Dante Fernandez / AFP
Carruagem leva caixão de Mujica durante cortejo fúnebre pelas ruas de Montevidéu — Foto: Dante Fernandez / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença, enquanto também são esperados o premier da Espanha, Pedro Sánchez, e a ex-presidente argentina Cristina Kirchner. A cerimônia de cremação deve ser reservada a familiares, enquanto o destino final das cinzas, a pedido do próprio Mujica, deve ser em um local do sítio onde morava, ao lado de Manuela, sua cadela de três patas.

Ao longo do trajeto pela capital uruguaia, faixas e grafites produzidos por movimentos de mobilização políticas próximos ao ex-presidente mandavam mensagens a Mujica. “A vida se vai, as causas ficam, Pepe”, lia-se em um grafite pintado em um muro. “Até sempre, querido velho”, dizia uma faixa. O jornal uruguaio El País relatou que populares saíram às sacadas e varandas dos prédios para aplaudir a passagem do cortejo.

Lucia Topolansky, viúva de Mujica, acompanha cortejo — Foto: Dante Fernandez / AFP
Lucia Topolansky, viúva de Mujica, acompanha cortejo — Foto: Dante Fernandez / AFP

— Não podemos fazer um discurso político, falemos de coração. O certo é que a semente do velho agora se transformou em sementes. Pepe não se foi, agora há milhares de Pepes para lutar. Obrigado, velho! — disse emocionado.

A morte do “presidente mais pobre do mundo”, como era frequentemente descrito em manchetes internacionais, desencadeou uma onda de mensagens de líderes latino-americanos e figuras da esquerda internacional.

O presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, ao lado do caixão de Pepe Mujica — Foto: Pablo Porciuncula/AFP
O presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, ao lado do caixão de Pepe Mujica — Foto: Pablo Porciuncula/AFP

“A sabedoria de suas palavras formou um verdadeiro hino de unidade e fraternidade para a América Latina”, escreveu Lula de Pequim, onde conclui uma visita de Estado.

O presidente chileno, Gabriel Boric, que frequentemente expressava sua admiração por ele e o visitou em fevereiro, também mandou um recado final ao uruguaio.

Em tom mais formal, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, com quem Mujica tinha divergências, observou que “a América Latina está se despedindo de um grande homem que dedicou sua vida ao ativismo e à sua pátria”.

Pessoas aplaudem Pepe Mujica durante cortejo fúnebre pelas ruas de Montevidéu — Foto: Pablo Porciuncula/AFP

Pessoas aplaudem Pepe Mujica durante cortejo fúnebre pelas ruas de Montevidéu — Foto: Pablo Porciuncula/AFP

Uma vida fora do roteiro

Durante seu mandato, entre 2010 e 2015, o ex-guerrilheiro se caracterizou por quebrar o molde de seus antecessores. Ao discurso direto, pé no chão e sem protocolos, o esquerdista aprovou reformas e tomou decisões que marcaram o país de 3,4 milhões de habitantes.

O mais inovador foi o impulso pela legalização da maconha com um plano inédito que colocou o Estado no comando de tudo, da produção à comercialização. Ele também tomou outras decisões controversas, como aceitar prisioneiros da Baía de Guantánamo, a pedido dos Estados Unidos, e refugiados sírios.

Esse espírito antissistema o levou, na juventude, a se tornar um dos líderes do movimento guerrilheiro urbano Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) e a suportar 13 anos de prisão em condições desumanas nas mãos da ditadura.

Mujica fez campanha pela esquerda até seus últimos dias, nunca negligenciando a firme defesa da unidade latino-americana. (Com AFP e El País).

Fonte: O Globo

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