Pode-se dizer que houve uma conexão interessante entre Victor Andrade e Portuguesa, que no domingo, às 20h15 (de Brasília), visita o Santos na Vila Belmiro, pelas quartas de final do Paulistão.
Tradicionalíssima, a Lusa vem de anos complicados, mas conseguiu retornar a um mata-mata de Série A1 após 13 temporadas e assegurar vaga na Série D de 2025. Já o ex-Menino da Vila chegou ao Canindé aos 28 anos para mais uma chance de reafirmação no futebol brasileiro.
Depois de passar pela Europa e rodar por alguns clubes do Brasil desde 2019, o atacante tenta na Lusa ser o destaque que todos sempre disseram que ele seria. Seguro de si, diz que deixou para trás a fama de marrento que carregava no Santos:
– Falavam que eu era problemático, falavam do meu extracampo, isso aí não sei de onde tiraram. Criou-se essa imagem não sei de onde. A gente vive num mundo de internet, de muita fake news, de muita mentira. Você lê, comenta com alguém e vira uma bola de neve. Mas a verdade uma hora aparece. Hoje me olham com um olhar melhor, como um profissional, que é o que sempre fui.
Victor Andrade, da Portuguesa, em entrevista ao ge — Foto: Marcelo Braga
Na entrevista ao ge, Victor Andrade falou bastante sobre a má fama que adquiriu no futebol quando ainda era um jovem em ascensão. Cobrado publicamente por Muricy Ramalho para ser mais humilde, o jogador, que despontou em 2012, acredita que faltou cuidado do técnico com um jovem de 16 anos:
– Muricy sempre trabalhou com jogador pronto, é um grande treinador, que ganhou tudo, sou eternamente grato a ele. Mas acho que faltou (cuidado), faltou ele saber lidar com a situação, não só comigo, mas com outros também. Mas nunca foi intencional, era o jeito dele. Eu era muito impulsivo também, fui aprendendo com o tempo. Sou muito grato por ele ter me botado no profissional.
– É que eu sempre fui muito bocudo, respondão. E no futebol existe hierarquia, tem gente que você pode responder e tem gente que você não pode. Eu respondia a qualquer pessoa, entrava em conflitos que não eram meus, queria ser advogado, achava que tinha injustiça e queria defender. Faltou maturidade, tinha 16, 17 anos – analisou Victor Andrade.
Muricy Ramalhono comando do Santos — Foto: Ricardo Saibun / Divulgação Santos FC
Em sete jogos pela Portuguesa, Victor tem um gol, uma assistência e algumas boas atuações. Depois de passar por Benfica, Estoril e Vitória de Guimarães, em Portugal, e Munique 1860, na Alemanha, ele rodou por clubes como Chapecoense, Goiás, Remo, Vila Nova e Juventude antes de chegar na Lusa:
– Tenho zero frustração na vida. Se eu falar algo que na minha vida foi ruim, teria de ser castigado. Não tenho nada a reclamar. Há a expectativa que as pessoas criam em você, mas elas que se frustram. E jogam esse peso em cima de você, sabe? – questionou.
No Santos, foram 29 partidas e três gols marcados. Em 2013, foi negociado com o Benfica, de Portugal. No reencontro com o ex-clube, já consegue imaginar algumas vaias:
– Ah, eles sempre vaiam. Mas eu fiz um gol contra o Santos pelo Goiás e não comemorei, então eles sabem que tenho respeito pelo clube – lembrou, sobre lance na derrota por 3 a 2 para o Peixe em outubro de 2020, pelo Brasileirão, num jogo que não contou com torcida por causa da pandemia.
O peso de ser mais um “Novo Neymar”
Autor de 40 gols em 34 jogos no sub-15 do Santos em 2010, Victor Andrade manteve um bom nível no sub-17 no ano seguinte e, junto de nomes como Neilton e Gabigol, passou a ser tratado como craque.
– Sempre fui muito fã do Robinho, desde que eu morava em Aracaju. Logo que cheguei no Santos, tive como treinador o Betinho, um treinador que levou o Robinho para lá, e ele se identificou com a minha característica. E sempre me destaquei na base. Lá é incrível, não sei se é a água de lá, mas só tem moleque bom de bola. E dos 13 anos para frente começaram comparações, o Santos tem esse DNA da ousadia, dos garotos não sentirem, e aí eu subi para o profissional em 2012, aos 16 anos.
Fotos de Neymar e Victor Andrade juntos no Santos — Foto: Reprodução / Instagram
Muito jovem, Victor Andrade passou a ter um salário alto em relação aos companheiros da mesma idade. Em 2012, numa visita a Barcelona, foi chamado de “novo Neymar” pelo jornal Mundo Desportivo. As comparações a outros craques santistas, para ele, não pesaram:
– Era sempre bom, eu sabia meu lugar, sei o lugar do Neymar, do Robinho, esses caras não dá para comparar. Sempre fiquei lisonjeado. Mas não dá para acreditar, isso aí é uma ilusão. É legal ser comparado pelo estilo de jogo, por ser parecido, mas igual eles não têm, eu sou fã destes dois.
– Para quem acredita, essa ilusão é perigosa, sim. Para quem não acredita e tem os pés no chão, é ok. Para quem acredita, pode sair um pouco do caminho. Hoje as pessoas me conhecem melhor. Muitas coisas que falavam não eram verdade e hoje está claro. Fui quebrando essa barreira. Óbvio que tinha uma expectativa muito grande em relação a mim, mas tive lesões sérias que atrasaram meu percurso.
Pai de Arthur, de oito anos, e de Ravi, de dois, Victor Andrade se diz mais maduro e festeja viver bom momento na Lusa depois de bater a cabeça num time que, em 2024, está na Série A: o Juventude.
Saída conturbada no Juventude
Antes de chegar à Lusa, Victor Andrade esteve no Juventude de julho a novembro no Juventude, mas deixou o elenco do técnico Thiago Carpini, hoje no São Paulo, a três rodadas do fim da Série B, competição que o time de Caxias ficou em segundo e cravou o acesso à elite.
Com 11 jogos e nenhum gol, Victor Andrade era visto como um jogador desinteressado, segundo a reportagem ouviu de pessoas do clube.
Victor Andrade fez apenas 11 partidas com a camisa do Juventude — Foto: Gabriel Tadiotto/E.C Juventude
O atacante admite que não criou grande conexão com Carpini, mas discorda de quem diz que ele não estava compromissado a ajudar o Juventude a subir:
– No futebol existem várias verdades. E uma mentira contada várias vezes vira uma verdade. Quem estava no clube sabe o que aconteceu. O Carpini me procurou e insistiu que eu fosse. Chegando lá, não foi o que tivemos de conversa, teve situações extracampo, nunca foi em campo, gosto de todos, mas vi que tinham coisas que não estavam certas.
– Para evitar problemas, eu que pedi a antecipação do contrato para ir embora e evitar conflitos com a diretoria, com pessoas de mau caráter. Mas deixa isso para lá, não gosto de problema. Falei: “Aqui não vai dar certo, vou atrás de um novo caminho”. Foi a melhor escolha que eu fiz. Fui para casa e hoje estou aqui na Portuguesa – disse o jogador.
– Eu deixei bem claro para as pessoas lá dentro do Juventude o que eu achava delas, não foram todas, foram umas duas pessoas, então tive essa conversa de homem para homem e ficou claro – completou ele, sem querer citar com quais pessoas teve desentendimentos.
Fonte: Ge