Para garantir a vantagem no primeiro turno das eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contou com a retomada de 226 redutos eleitorais petistas que haviam debandado para outros partidos em 2018.
Com 99,9% das urnas apuradas até a conclusão desta reportagem, Lula tinha 48,4% dos votos válidos neste domingo (2) e vai para o segundo turno contra Jair Bolsonaro, que tinha 43,2%.
Levantamento da Folha de S.Paulo avaliou as 357 cidades que votaram majoritariamente nos candidatos do PT no primeiro turno entre 2002 e 2014, mas optaram por Jair Bolsonaro (PL, então no PSL) ou por Ciro Gomes (PDT) em 2018. A análise leva em consideração os dados totalizados até as 23h.
Houve um empate em Coronel Sapucaia (MS) entre os dois candidatos que vão para o segundo turno, que terminaram com 4.254 votos. A disputa já havia sido apertada em 2018: 40% a 38,6% para Bolsonaro.
No grupo de municípios retomados, Lula obteve 48,3% dos votos válidos neste primeiro turno. Recebeu mais da metade dos tentos em 156 desses lugares.
Em Ananindeua (PA), a diferença foi a mais apertada: 45,3% dos votos válidos ao petista, ante 43,6% do atual presidente. Em 2018, o capitão reformado obteve o mesmo percentual de votos, superando os 24,8% de Fernando Haddad (PT). Na ocasião, o agora candidato ao governo de São Paulo foi o substituto de Lula, que teve sua candidatura barrada pela Justiça.
Por outro lado, a vitória mais expressiva foi em Várzea Alegre (CE), onde Lula ficou com 80% dos votos –Bolsonaro teve 14,5%. Por ali, a vitória em 2018 foi de Ciro Gomes, com 46,3% dos votos (ficou com 4,3% neste pleito).
No primeiro turno de 2018, sete capitais onde o PT reinava preteriram o partido. Elas se concentraram principalmente na região Norte. Jair Bolsonaro levou Manaus, Belém, João Pessoa, Natal, Macapá e Porto Velho. Além delas, Fortaleza migrou para Ciro Gomes.
Agora, quatro dessas voltaram para o PT: Belém, João Pessoa, Natal e Fortaleza.
Em Manaus, Jair Bolsonaro teve um percentual menor dos votos do que em 2018, mas ainda ficou acima dos 50%. Os 57,3% do primeiro turno da
eleição anterior viraram 53,6% agora, ante 37% de Lula.
Foi na capital amazonense que o atual governo viveu um de seus momentos mais críticos durante a pandemia do coronavírus. Em janeiro de 2021, a falta de oxigênio em hospitais provocou caos no sistema de saúde local.
O colapso na região foi um dos principais pontos explorados pela CPI da Covid, que sugeriu indiciamento de Bolsonaro e de outros membros de seu governo. A comissão foi presidida pelo senador Omar Aziz (PSD), reeleito no estado após disputa acirrada com Coronel Menezes (PL), do mesmo partido do presidente.
O governador do estado e candidato a reeleição, Wilson Lima (União Brasil), dividiu palanque com o presidente, mas chegou a ser vaiado. Além da crise com a Covid, sua gestão foi marcada por crises ambientais e de segurança, bem como suspeitas de corrupção.
No estado de São Paulo, onde os candidatos focaram suas campanhas, o PT conseguiu retomar 20 dos 27 redutos eleitorais que havia perdido para Bolsonaro em 2018. Mesmo assim, a vantagem nos votos recebidos no estado foi de Bolsonaro.
Francisco Morato, na região metropolitana da capital, ilustra bem a retomada petista. Por lá, a situação foi a mais apertada entre os redutos eleitorais do PT com mais de 10 mil habitantes convertidos na eleição passada -37,4% a 32,6% para Bolsonaro ante Haddad. Agora, Lula conquistou 57,9% dos votos e o atual presidente, 33,5%.
Na outra ponta da lista está Sumaré, na região de Campinas. Por ali, também reduto petista, Bolsonaro ganhou com folga em 2018: 57,2% a 20,6%, uma diferença de 36,6 pontos percentuais. Apesar de ter visitado pessoalmente a região, Lula não conseguiu reverter a situação por ali: teve 40,1% dos votos, ante 51%.
Junto de Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad, Lula visitou uma ocupação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) na região em maio deste ano. Na ocasião, ele prometeu transformar a área em um bairro.
No geral, o PT conseguiu recuperar municípios mais populosos. Em média, cidades com 74,4 mil habitantes, segundo o Censo de 2010. O bolsonarismo prevaleceu em cidades com média de 19,3 mil.
As cidades mantidas por Bolsonaro receberam mais verba federal. O valor médio de transferências per capita foi de R$ 6.000, ante R$ 4.500 naquelas que preferiram Lula, considerando todo o atual mandato presidencial, com valores até setembro de 2022 e corrigidos pela inflação.
A virada petista aconteceu em localidades onde um percentual maior de famílias recebia o Auxílio Brasil. Entre julho e setembro deste ano, 34,2% das famílias nos municípios que optaram mais por Lula receberam o valor, ante 22,6% nas localidades bolsonaristas.
Análise da Folha de S.Paulo aponta que a expansão do benefício para tentar melhorar os índices de popularidade do governo Jair Bolsonaro nos setores de baixa renda às vésperas do pleito não reverteu a tendência de vitória do PT nos municípios mais pobres do país.